quinta-feira, 14 de maio de 2009

Madrugada


 

Certas coisas não me servem. Olhe pela janela. O que dali é considerado bom?

Não serve.

E com uma arrogância que não era sua, fez um gesto a mais com o leque nas mãos. Não serve. E fiquei pensando, ali, no que mais não servia.

Encantou-me a exposição dela sobre o mundo e suas coisas. O que deveria ou não fazer. O que serve?

Serve-me uma garrafa de vinho. Não me serve uma vida de post-its.

Ela me comentando do casal que as três da manhã volta de uma festa, ela bêbada e tonta e ele alegre também. Era possível ouvir os passos do salto dela há cinco quilômetros dali. E minha companhia, com o leque deixado de lado e seu copo de vinho disse-me: Isso não me serve. Uma vida mixuruca na qual tenho que ficar bêbada para aturar a criatura do meu lado. Não me serve um homem pela metade. Dizia-me ela. Frescuras que não cabem eu não quero. Cansei de ter as coisas pela metade Mordred. Quero algo completo e perfeito.

E eu observei a atitude de minha compania e a acompanhei com o vinho.  O mundo é feito de pequenas coisas, não? E o tocador de músicas dela foi para uma música inesperada. E ela sorriu. Como se um diabinho dentro dela existisse, ela sorriu maligna. Eu quero algo como essa música. Será que um dia eu encontro? Acho que não…  Gosto muito dessa banda… Por que as coisas não podem ser como queremos que elas sejam? Pena que depois de um certo tempo eles pararam de fazer sucesso…

Quadros previamentes pintados tendem a não funcionar. Surgem manchas antes da hora. O pessismo é uma marca natural minha.  Há momentos em que não sabemos o que dizer. A descrença dela e minha no mundo eram impossíveis de serem escondidas.

Não acredito que o Obama presidente vá ser lá grande coisa. As tropas ficaram no Iraque… Será que a gripe suína mata muita gente? Eu só disse que achava que não. 1918 não volta. Ela suspirou e me disse: pena… tinha tanta gente que não faria falta neste mundo. Eu concordei…

E por fim, bebi mais um gole de vinho.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Post-it



É o mundo dos post-its.
Fazer o quê?
Recados rápidos, cultura rápida. Não se tem nunca tempo de nada. Para quê tempo? Ele foge, corre para longe. E nós lá, atrás dele. Deixando post-its por tudo. Uma vida de recados rápidos. Não pensamos em nado. Cru. Simples, fácil, polido, rápido.
É um comando: Não esqueça isso! O resto fica para depois. E depois, e depois.. E, surpresa! Morremos sós!
Não se pensa direito em nada. Um post-it de vida. Não há espaço para observações pequenas, carinhos pequenos. É o principal, nu e cru da mensagem de palavras cortadas do celular. É a tecnologia. Em duas linhas: Limpe o quarto. Três linhas: compre o leite, frios, ovos e não se esqueça de aquecer o pão velho. Entrelinhas não são necessárias.
Para que as míseras duas letras bj juntas? Sim, um beijo, um carinho. É tempo perdido. Pessoas são tempo perdido.
Ontem, o mundo acabaria se aquele tênis não existisse em teus pés. Hoje, esse mesmo tênis equivale a lixo... De um dia para outro tudo ficou tão dispensável. E eu me perco nisso. Posto que me descubro dispensável...
Sou ser humano de cartas, frases curtas, textos longos. Para mim nada, nem palavra é dispensável. Não, ainda não vivo de post-its...
 

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