quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vazio



Eles estavam gritando do outro lado da rua. Não os entendia. Não porque estivesse fora de meus sentidos. Não porque a rua estivesse agitada demais. Era madrugada e o único movimento que eu podia perceber era o de um gato preguiçoso fugindo de sua dona. E certamente, não era porque eles diziam coisas ininteligíveis.
Em alguns tempos, a convivência nos cansa. E queremos que os outros se explodam. Ou sumam. Os gestos estão gastos e não há fôlego o suficiente para ouvir a mesma sequência de frases, expressões. É impressionante como a criatividade abandona o ser humano médio cada vez mais a cada dia. Ou será que o ser humano médio abandona cada dia mais a criatividade? O plágio parece ser a estrada mais As pessoas se cansam do que é repetitivo. Entretanto, também crêem que a energia gasta em criatividade é um gasto inútil. O caminho mais fácil para o sucesso é o plágio. A fama pode ser conseguida ao transformar-se em uma cópia pobre de alguém. Milhões são capazes de gritar por uma farsa e incapazes de compreender quais são as reais consequências do grito irreflexivo. Colaboram com seu tédio diário. Matam o que pode ser novo. Afinal, a falta de novidade muito lhes apraz. Afinal, a novidade é indefinível, em um mundo que exige novidades ao menos dez vezes por dia. Estímulos são mais importantes que qualquer coisas para os ratos... Perdão, seres humanos.
Batem palmas pelos copiadores. São sobreviventes, audazes, espertos. A cultura do novo, bonito e brilhante ocupa a todos os espaços. Algo novo não pode ser produzido a cada dois segundos. Mentimos que reciclamos o velho.
Os gritos do outro lado da rua continuaram. Não havia novidade neles. Apenas a repetição contínua. Para não morrer de tédio... Joguei a garrafa vazia no meio do nada, acenei e fui para casa. Reciclei um antigo hábito meu... Ir dormir antes das seis da manhã...

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