segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Nuvens



Foi um daqueles dias de tempo nublado. Aqueles que as pessoas levantam e dizem que querem ficar na cama. Dia daqueles que eu levanto da cama, vou até a geladeira, como alguma coisa e saio. É o dia em que um vinho (mesmo um vagabundo) cai bem. Pelo que tenho no bolso, só vagabundo mesmo. Se chovesse era perfeito.
Gosto de dias chuvosos. Não gosto de sol. Nunca gostei. É o que ele representa. Dias sem chuva são bons dias. Nas séries de televisão antigonas, nunca chovia. Reparou?
Dias com neblina as ruas ficam vazias. Silenciosas. As pessoas se encolhem em suas caminhas confortáveis, com seus controles remotos presos em suas mãos como se eles fossem feitos de ouro. Outra coisa com grande valor simbólico, aliás. E quando elas se encolhem, elas fogem para um mundo bem à parte, das televisões sem dias de chuva. O que me lembra: a busca pela realidade no mundo fabricado da ficção agora é povoada por dias de chuva e dias nublados. Isso também me lembra: não tem bono dentro do armário. Ainda tem coca-cola na geladeira e o dólar subiu. Isso significa: sem absinto para mim.
Meu problema com os dias de sol são as pessoas. Felizes, juntam-se tal qual porcos em um chiqueiro, sujando tudo a seu redor. E gritam alto juntas. Grunhem. Chamam isso de comunicação. Vejo apenas uma multidão que não sabe o que quer, e quando reunida fala apenas asneiras. Não é asneiras.
Dias nebulosos têm o vazio. O cidadão comum nesses dias, se possível, restringe-se a seu pequeno espaço. A seu pequeno espaço fechado. Um espaço que ele acredita dominar. Nesses dias, coloco minha jaqueta e saio.
Nesse dia... nublado como todos os outros, eu vi algo interessante... Existem porcos que saem durante os dias nublados também. Os piores tipo, devo acrescentar (estou parecendo um personagem daqueles filmes que a minha avó me obrigava a ver com ela nos domingos-preço alto por doces..). São porcos que querem esconder o que fazem. Sabem que os outros não gostam dos dias nublados.
Eles se juntaram. Todos bem arrumados. Um carro grande e carteira de habilitação comprada. E correram. Correram mesmo. Como podiam e não podiam. O casal de namorados se apressou, mas ela estava de salto alto. Mulheres gostam de salto alto e maquiagem. Seria uma bela metáfora para a mentira... Ela se maqueia e usa salto alto para esconder quem é.
Devo admitir, não via nada. Sei que semana depois, eles tiveram uma sentença comprada, assim como sua carteira. Começo a achar que prefiro os dias de chuva. Ao menos, os imbecis teriam batido em um poste logo em seguida.

1 comentários:

Anônimo disse...

Esse seu texto me lembrou um livro que estou lendo, chamado: A Sombra do Vento. Muito bonito. Parabéns. :)

 

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